Ele se tornou famoso mundialmente em 1969, ao publicar o livro Papillon, no qual contava a sua fuga espetacular, ocorrida em 1935, da Ilha do Diabo, o sinistro complexo de presídios que a França mantinha na Guiana Francesa. O sucesso foi ainda maior quando a história do prisioneiro Henri Charrière, o Papillon, chegou às telas dos cinemas em 1971 em uma superprodução de Hollywood, com Steve McQueen no papel principal. Mas Charrière, um homem de poucos estudos, era uma gigantesca farsa. O verdadeiro autor de Papillon foi outro fugitivo, René Belbenoît, um intelectual que falava quatro línguas e liderou um grupo de presos (entre eles Charrière), façanha relatada em seu livro A Ilha do Diabo (Dry guillotine no original, Prêmio Pullitzer de 1938). O sucesso do livro na época fez com que a França terminasse por desativar o presídio por onde passaram (e morreram, em boa parte) milhares de prisioneiros. Depois de fugir para a então Guiana Inglesa, René Belbenoît, o verdadeiro Papillon, radicou-se com seus parceiros em Roraima desde 1940, morrendo em 1978, aos 73 anos, e sendo sepultado na Vila Surumú, no n0orte do Estado, hoje parte da Terra Indígena São Marcos.
Esse aparente fim obscuro de Belbenoît concluiu uma trajetória de vida cheia de intrigas, 13 anos de desterro (1922-1935) na Ilha do Diabo por assalto, livros de sucesso, identidades falsas, um assalto milionário e muitos negócios com garimpos de ouro, diamantes e metais preciosos. Além, é claro, da história de como os manuscritos dos livros Papillon e Banco, escritos por René Belbenoît na Vila Surumú, acabaram nas mãos de Charrière. Os dois primeiros livros de Belbenoît , Hell on trial e Dry guillotine, foram publicados nos EUA graças à amizade que ele construiu durante anos de correspondência, ainda na prisão, com a escritora americana Blair Niles. Os dois acertaram ainda que um dos fugitivos, de nome desconhecido, deveria seguir para os EUA e assumir a identidade de René Belbenoît, como medida de segurança para o grupo que ficou na América do Sul.
Esse falso René, que morreu em 1959 na Califórnia e teve o corpo cremado, acabou sendo vital para que a verdadeira identidade de Papillon fosse comprovada este ano no Brasil. Foi comparando fotos dos dois com a identidade de Belbenoît, tirada em 1973, que os peritos da Polícia Federal Paulo Quintiliano e Marcelo Ruback, depois de seis meses de trabalho em computador, chegaram à conclusão de que o verdadeiro René, o Papillon (apelido que ganhou na prisão ainda na década de 1920), é o que morreu e está enterrado no Brasil. “Usamos um programa de computador que desenvolvi em minha tese de doutorado e que permite a identificação precisa de pessoas através de imagens faciais”, diz o perito Paulo Quintiliano. “Isso mostra que eu tinha razão ao garantir que Papillon tinha vivido décadas e morrido em Roraima”, comemora o fotógrafo e escritor Platão Arantes, autor de dois livros sobre o caso
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